Polinização garante nossa existência

80% dos nossos alimentos vem do trabalho das abelhas

As abelhas nativas são responsáveis por 30% da polinização da Caatinga e Pantanal, 90% da Mata Atlântica, Floresta Amazônica e Floresta Subtropical, e por 80% das plantas que dão recompensa alimentar, tanto para os animais quanto para os seres humanos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Grande parte dessas plantas dependem exclusivamente da polinização feita por insetos, e em especial as abelhas nativas, que, graças à variedade de tamanho, conseguem ajudar na fertilização cruzada de uma forma mais rápida e eficaz.

O ato de polinizar é essencial para o ecossistema e para o modo de vida adotado pela sociedade. É o processo da transferência do pólen da parte masculina de uma flor para a parte feminina de outra flor. Ocorre de duas maneiras. A primeira é conhecida como autopolinização, com flores da mesma espécie. Também pode acontecer a polinização cruzada, com espécies diferentes de flores, com a transferência do material feita pelo vento, pela água e, principalmente, pelos insetos.

Para auxiliar na realização do trabalho existem os meliponicultores – pessoas que se dedicam a fornecer a estrutura para as abelhas-sem-ferrão. O interesse vai além do recolhimento de mel e própolis, já que, na essência, buscam colaborar com a prestação de serviços ambientais. “O meu primeiro contato com as abelhas foi através do meu vizinho, que tinha alguns caixotes da espécie mirim. A partir daquele momento, eu me apaixonei e comecei a querer fazer parte da meliponicultura, a fim de proteger essas abelhinhas” comenta Leandro Pauluk, que também é apicultor.

O universo da apicultura e da meliponicultura são muito diferentes: enquanto a apicultura tem como foco cuidar das Apis Meliferas, abelhas com ferrão, a meliponicultura cuida dos Meliponíneos, abelha-sem-ferrão. É pensando nisso que Pauluk e o colega Júlio Pereira, que mantém uma história com as abelhas desde os antepassados, vão contar um pouco mais sobre as principais características desses dois mundos. Confira no vídeo a seguir.

O manejo das abelhas-sem-ferrão, como visto no vídeo, é um trabalho barato, pois os equipamentos são simples. A ausência de risco de ferroadas, dispensa a necessidade de trajes especiais de proteção. Também é considerado seguro colocar caixas de abelhas nativas em espaços escolares, como ferramenta de educação ambiental, para ensinar as futuras gerações sobre a importância da polinização no ecossistema e, na prática, promover a reflexão sobre ações de proteção ambiental.

Foi com esse pensamento que Alexandra Leschnhak, proprietária do Rancho Caminho das Águas quis adotar o manejo das abelhas-sem-ferrão. Alexandra conta que o local pertencente à família desde a década de 1970, “sempre teve um foco na agricultura familiar e orgânica e, com o passar do tempo, o sonho foi crescendo até chegar a um ponto de querermos trazer também escolas, famílias e grupos para mostrar como é possível viver e produzir em harmonia com a natureza” A proprietária acredita que consegue mostrar, na prática, a importância do cuidado com o meio ambiente. “Claramente as abelhas nativas trazem esse encantamento e a conscientização que queremos passar”.

As abelhas-sem-ferrão são capazes de atrair a atenção e estimular a curiosidade em qualquer idade. Assista agora ao vídeo em que Alexandra relata como o movimento das colmeias cativa o público que visita o rancho.

Além da utilização das abelhas-sem-ferrão na educação ambiental, também é possível ver a meliponicultura como uma forma de terapia, ajudando no tratamento de pessoas com depressão, traumas e ansiedade. Ter um caixote de abelha em casa significa, ver diariamente o funcionamento da colmeia e se envolver, com o principal trabalho realizado pelas abelhas.

O meliponicultor Tony Lima teve a atenção fisgada por uma Jataí da Terra, que encontrou no chão do estacionamento da empresa onde trabalhava. Na época, estavam reformando o lugar e pretendiam matar as abelhas. Como forma de salvá-las, ele começou a pesquisar sobre a espécie, fez a retirada do enxame e tem em casa, até hoje, a primeira colmeia que resgatou, dez anos atrás. “Quando se fala em abelha vem logo na nossa cabeça, mel e ferrão. Mas a abelha significa muito mais do que isso, principalmente as abelhas nativas. Eu crio as abelhas-sem-ferrão desde 2010 e quanto mais eu conheço, mais eu me encanto. A maneira como a abelha trabalha é incrível. E ver isso diariamente é como se fosse uma terapia. Para mim, realmente foi. Elas me salvaram”, relata.

Assista agora ao vídeo em que Tony apresenta as abelhas nativas como terapeutas e como elas foram e são importantes para a sua vida e seu bem-estar.

O que muita gente não sabe é que não precisa morar em zona rural para ter abelhas nativas por perto. É viável a criação no quintal, em espaços urbanos. O autônomo Maykon Cordeiro percebeu um enxame em um dos muros de casa e decidiu começar a se especializar na criação de abelhas nativas. A atividade teve desdobramentos. “Eu introduzi as abelhas e também já fui inserindo plantas”, explica. “Quando tem a polinização correta do fruto, ele não fica deformado”, acrescenta.

Nesse próximo vídeo, tanto Maykon quanto a esposa Jennifer Scaglioni, também autônoma, apresentam as abelhas nativas como animais de estimação, uma forma de pets ecológicos.

Um dos maiores desafios do meliponicultor é garantir estabilidade e longevidade para as suas abelhas. Para isso são necessários vários cuidados ao adotar ou comprar um caixote. É preciso também a atenção com a resolução 496/2020 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que alerta sobre as regras para ter abelhas em casa.